Vanessa Ribeiro Psicologia

O poder do rascunho: a liberdade para criar

Tenho percebido o quanto querer fazer algo grande, importante ou vistoso tem o poder de travar nossos impulsos criativos.
O desejo por um produto final vinculado a um ideal parece anular a fluidez do processo de criação.

Lembro que todas as vezes que quis fazer algo perfeito, foi a imperfeição e a frustração meus principais acompanhantes. Curiosamente, nas poucas vezes em que experimentei a ausência ou baixas expectativas sobre algo, fui surpreendida ou flui nas imperfeições me permitindo o riso ou as histórias de confusões.

Talvez a principal diferença nessas duas situações seja a abertura interna para viver o que está dentro de você. Aquilo que nem sempre segue um padrão, ou que é agradável, vistoso ou “digno” de exaltação.
O que está dentro de nós é, muitas vezes simples (mesmo que seja simplesmente complicado rs). É fluído como o sangue que corre em nossas veias. Se há algum impedimento ou adoecimento em seu percurso é porque, provavelmente sofreu interferências de algo externo que não lhe pertence ou impede o seu fluir.

Disse tudo isso, pra relembrar o valor do rascunho, do papel em que se pode rabiscar.

Quantas vezes escrever a lápis, foi ter a liberdade de apagar?
Com o lápis eu me sinto livre pra rabiscar.
Já não preciso acertar de primeira.
Eu posso rascunhar!

Lembro que nas séries iniciais da escola, só podíamos escrever a lápis, e o meu sonho nesses primeiros anos era poder usar a caneta.
Mas junto com a caneta parece que tudo ficou mais sério, as tarefas, os erros e a responsabilidade de resolver os mistérios.

O difícil deixou de ser desafio para se tornar um fardo, grande e pesado.
Com a caneta, não tinha mais espaço para o lápis de cor, aposentei a borracha, já não usei mais rascunhos.
Tudo precisava dar certo de primeira
E nessa tensa precisão,
Acabou a brincadeira e o espaço para criação.

Na caneta aprendi a vida de gente chata,
Uma vida embotada, mas por muitos desejada e valorizada.
O lápis virou sinônimo de fraqueza e inadequação, usado pelos imprecisos
Era símbolo de amor e libertação.
Mas aprendi que liberdade e amor sem segurança e precisão também não tem valor.

E assim o rascunho foi aposentado,
O papel chique exaltado
E na certeza e exatidão
A liberdade ganhou uma forma
Da vida de um único padrão.

Escrevi no ebook Psicologia Itinerante que “É nos rabiscos que nascem grandes obras”. Então termino esse texto lhe desejando rascunhos. Que grandes transformações nasçam da sua liberdade de rabiscar.

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