Tenho acompanhado muitas pessoas ao longo dos últimos anos como psicoterapeuta, e junto com muitas delas, histórias de solidão não tão bonitas como os vídeos de solitude e autoconhecimento a que temos acesso diariamente na internet. Na verdade, percebo o quanto muito desses conteúdos podem gerar culpa e adoecimento dependendo do momento em que são recebidos, por melhor que seja a intenção daqueles que o produzem.
Acompanho histórias de solidão de pessoas solteiras, advindas de relacionamentos frustrados, mas também de pessoas casadas, comprometidas ou amigadas. Pude perceber que pessoas isoladas ou as mais populares e procuradas podem dividir o mesmo lugar de solidão, acompanhado muitas vezes de uma sensação de abandono e de não ter com quem contar, nem sempre fácil de se explicar ou expressar.
Você já se percebeu sozinho em determinados momentos, inclusive com pessoas ao seu redor? Acredito que a sensação de solidão tem a ver com a necessidade de receber um colo que nem sempre nos chega, de precisar de afetos sem julgamento e suportes sem condições determinadas.
Vivemos numa época em que dar conta de tudo se tornou fonte de orgulho e motivação, mas somos humanos, carregamos nas muitas dimensões de nós: no nosso corpo e nos nossos afetos o que comumente chamamos de limite.
O corpo cansa e a alma também. E é a ausência de lugares de descanso que muitas vezes nos transportam para o desejo de jogar tudo para o alto e desistir.
Inspirada na metáfora do cavaleiro preso na armadura, de Robert Fisher, me pergunto qual é a nossa base? Em que momentos ou com que pessoas nos sentimos seguros o suficiente para nos despir das armaduras que nos protegem e acessar o miolo dolorido presente em nós? Não ter base, significa não se permitir descansar livremente, é estar preso na própria armadura – uma proteção tão importante para adentrar os campos de batalha da vida, que se torna absolutamente sufocante quando vista como a única forma de circular pelo mundo.