Vanessa Ribeiro Psicologia

Maternidade

A vida é capaz de ser ressignificada a cada momento. Como uma peça de teatro que a cada ato traz novas informações que te permitem ampliar e modificar sua compreensão da história. Gosto de pensar em verdades transitórias, elas me dão a liberdade de me repensar e de reavaliar as situações de vários ângulos diferentes.

Estou grávida! Tá aí uma descoberta que diariamente tem reconfigurado muita coisa por aqui. Foi preciso fazer quatro testes para acreditar que eu tinha entendido certo o significado dos dois pauzinhos (rs). Bateu um medo! Porque já era algo que eu desejava, e eu não queria me decepcionar. Dividi com meu marido a informação, e as lágrimas dele junto com a nossa conversa embalada por um abraço foi dando lugar a criança que já habitava meu corpo. Medo de novo!

Nossa vida vai mudar! A rotina, os gastos, tudo vai precisar ser repensado.
Seguido a isso, pensamentos involuntários chegavam sem aviso…

“Será que a criança está no lugar certo?”
“Será que a gravidez vai vingar?”
“Há tanta coisa envolvida, melhor não criar muitas expectativas, né?”
“Melhor não contar pra ninguém, se algo não sair como planejado, com mais pessoas sabendo vai ser pior de encarar.”

O medo se transformava em inúmeras fantasias do que poderia dar errado, tudo parecia a minha vã tentativa de não me envolver como forma de me proteger.

O primeiro momento marcante chegou: a ultra inicial. Embrião no útero, coração batendo a 144 Bpm. Foi necessário um tempo de processamento… muito louco perceber que eu estava escutando um coração no meu corpo que não era o meu (rs). Em seguida, o desejo pelo teste de sexagem fetal… Descobrimos: É menina!

Elis ganha um nome e com isso mais lugar e proximidade em nossas vidas. Já começamos a nos sentir uma família em crescimento. Comunico, constantemente ao Sid e ao Paçoca, os membros caninos da família, que Elis está aqui, e que logo eles vão conhece-la. Não sei se a minha tentativa de os integrar está funcionando, mas continuo apostando 😅.

Chegou o momento da Ultra Morfológica, muito importante para a descoberta de malformações. Minha tensão toma toda a sala… e Elis me responde: mal ela aparece no visor dá um grande pulo! Choro e riso compõe a minha emoção, eu entendi seu recado Elis, tem vida pulante por aí, né? A ultra segue, e a médica pacientemente tenta fazer as medições entre os pulos de Elis.

Eu nem sabia que precisava disso para me acalmar, mas ela parecia saber. Um coração batendo 160 vezes por minuto, também me ajudava a me refazer. Nesse momento, a alegria já não cabia mais no peito, a vontade era de mostrar pra todo mundo da rua os pulos de Elis. Falar para os outros reafirmava ” Tem vida dentro de mim, e vida pulante!”.

Voltamos para casa, contamos para algumas pessoas especiais, mostramos os pulos de Elis muitas e muitas vezes. Eu não me canso de ver. Agora ela já está toda dentro da família.

E a cada dia esses pulos se encontram com a minha vontade de fazer as coisas acontecerem… Dos meus projetos profissionais, às escolhas para o quarto de Elis.

E o medo? Você acha que foi embora? Claro que não, a cada dia que Elis ganha espaço por aqui, o coração aperta pelo medo de perder o que já é tão especial. Mas tenho escolhido permitir o encontro entre o medo e o desejo de viver os detalhes de tudo que está acontecendo.

Pensar maternidade para mim, é pensar todas essas confusões. Do corpo que se modifica e pede novas vestimentas e tamanhos, do casamento que se embala em novos assuntos, interesses e roteiros, da casa que se transforma para receber da melhor forma a florzinha que está crescendo em nosso jardim.

Tem muita terra sendo mexida e remexida aqui, interna e externamente em todos nós. Da notícia até hoje mudamos muitas e muitas vezes! Nasceu poesia, nasceu escultura, numa tentativa de deixar transbordar a felicidade que nos habita.

Mas fico pensando que essa maternidade pode ser vivida de tantas formas quanto forem as pessoas e os contextos possíveis. Em um evento de turismo no Rio, no banheiro feminino cumprimentei a moça que limpava o banheiro e elogiei a equipe e a limpeza impecável do lugar mesmo com tanta circulação de gente. Ela agradeceu e disse:

“Obrigada por reconhecer! Estou há seis dias fora de casa porque moro em Austin (um lugar bem distante de onde estávamos). Eu sou mãe sabia? Sabe qual a idade da minha filha? Ela tem 8 meses. E eu estou há 6 dias sem vê-la.”

Depois de ouvi-la, minha garganta emudeceu. Meu coração de mãe recém-formado doeu, doeu muito! Naqueles poucos minutos, ela me traduziu uma realidade avassaladora. Envergonhei-me dos meus privilégios, não havia o que dizer. Mas simplesmente ficou evidente que a maternidade é grosseiramente atravessada pela presença ou ausência de uma rede de suporte emocional, afetivo, econômico e social que ajuda a dar o tom do prazer e do sofrimento no processo de ser mãe.

É por esse motivo, que hoje, neste mês das mães decidi dedicar esse texto a todas as mulheres que em seus respectivos contextos e com os recursos que tinham e que tem se comprometem a cuidar e fazer o seu melhor pelos filhos que as habitam ou que estão sob seus cuidados. Incluo nestas palavras as mulheres que biologicamente não podem viver o processo de gestação, mas que se empenham em relações de cuidado que gestam e compõem pessoas das mais diversas formas.

Gostaria de registrar aqui a admiração por aquela mulher, que passou 6 dias longe de sua filha para garantir o seu sustento. E embora esse cenário não me pareça nada justo, eu espero que algum dia a sua filha tenha dimensão do tamanho do amor envolvido nessa decisão.

Neste mês das mães, agradeço em especial as mulheres e mães que me cuidaram e me gestaram de muitas e muitas formas e a minha mãe, Dona Cira, que me ensina e me inspira diariamente para os cuidados de Elis.

Queridas mamães, me incluo neste grupo agora com a certeza de que erramos e erraremos muitas vezes, mas desejo que o amor seja o nosso guia nessa jornada!

Conto com vocês!

4 comments

  1. Querida que benção é uma gravidez. Fico feliz por vc, e que Elis seja bem vinda. Minha recomendação, como mãe e avó: muito amor para educar sua filha, se não o bastante, então será preciso mais AMOR… Paz e bem pra vc e família!

  2. Vanessa, obrigada por partilhar sua caminhada conosco. Parabéns pela sua gestação e que alegria saber da energia da Elis, certo que ela trará ainda mais alegria e sorrisos para vocês. Estou começando a caminhada gestacional, também cheia de medos e receios mais muito feliz pela dádiva de gerar uma vida! Desejo muito amor e saúde para vocês ♡

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