Vanessa Ribeiro Psicologia

Gestando novos caminhos: encarando as dores e delícias de uma vida em transformação

Ao buscar em alguns dicionários, encontrei que o termo gestar significa criar, conceber, dar origem a algo novo. Ele vem do latim gestare que tem o sentido de carregar algo novo em si mesmo; trazer consigo mudanças; carregar consigo transformações. Uma mulher carrega consigo um bebê que está em transformação. Ela se torna casa de um ser que se modifica ali dentro e nesse processo também provoca transformações nessa mulher. A partir disso, ambos precisam transformar o ambiente que os cerca para que este consiga receber da melhor forma possível esse mundo de mudanças que está sendo criado.

Ao perceber isso foi instantâneo pra mim associar a metáfora da gestação como o processo de vida nova que brota dentro de nós. Nessa perspectiva homens, mulheres e crianças gestam, todos nós somos capazes de conceber o novo, de carregar o diferente dentro de nós. Cada um dentro de suas possibilidades e limitações.

Na verdade, esse é o convite desse texto: pensar as dores e as delícias de se propor a gestar o novo em nossas vidas.
É um exercício de sair de um pensamento romântico e fantasioso de que depois que o novo chega tudo se resolve ou se mantém magicamente, e encarar o real esforço e os desconfortos necessários para fazer aquilo que desejamos acontecer. Considerando o custo emocional envolvido no desafio de possibilitar um ambiente que permita essa mudança se manter, mesmo que boa parte deste ambiente seja gerado dentro de nós.

Na gestação há um processo de preparação para receber o novo, fisiologicamente o corpo se prepara, se transforma. Isso que é novo chega e encontra no ambiente cuidadosamente preparado autorização para crescer. Ele modifica o corpo até que esse crescimento seja tão vasto e intenso que isso que é gestado passa a não caber mais só dentro, ele precisa vir para o mundo e ser compartilhado com outras pessoas. E esse é um ponto importante desta metáfora, um bebê que já está grande e pronto pra nascer, ele precisa viver o desconforto do parto, ele precisa encarar o mundo aqui fora. Do contrário, ele sufoca e morre no mesmo ambiente que o possibilitou crescer até esse momento.
Isso também acontece com o novo dentro de nós. Em alguns momentos nós nutrimos os nossos desejos, eles crescem dentro de nós, mas nem sempre temos coragem de enfrentar o parto necessário para fazê-los nascer. É preciso coragem para que isso aconteça, é necessário assumir os riscos envolvidos nesse processo. É preciso entender que tudo isso vale a pena para fazer o novo nascer!

A metáfora da gestação nos permite pensar esse processo que envolve muitas transformações, inclusive emocionalmente muitos altos e baixos, que envolve muitos desconfortos necessários para que o novo venha.
Ampliar essa compreensão para um movimento de gestação de novos caminhos é considerar um cenário parecido que traz a necessidade de preparação, de um tempo de revisão disso que já existe, de abertura de espaço para o novo que vai chegar. Gestar novos caminhos implica uma certa permissividade, um movimento de abrir espaço para o novo entrar, para isso, é preciso deixar ir aquilo que já não faz mais sentido.

A partir dessa permissão inicia-se uma fase de construção da relação com esse novo, com os desconfortos daquilo que não conseguimos controlar ou do que não sai como o planejado.
Assim como num processo de gestação há uma concepção de uma criança, mas também de novos papéis e lugares, como mãe e filho, por exemplo.
A gestação de novos caminhos também nos exige ocupar papéis e espaços, por vezes desconhecidos ou até evitados.

Eu não sei qual é o novo que você precisa gestar nesse momento. Novas amizades, novas relações amorosas, um novo trabalho, novos estilos de vida, novos olhares sobre si mesmo. Independente de que novo estejamos nos referindo, esse texto é pra você. Ele é sobretudo para te dizer que se o novo que você está buscando te aproxima do que te faz feliz ele já vale a pena.
Na minha vida, nada pode ter um valor maior do que aquilo que dá sentido aos meus dias, e na sua? É sobre isso. Que o processo de gestar novos caminhos renove em você os sentidos de estar vivo.

Bem-vindo a mais um ano! Temos mais uma oportunidade de buscar nossas melhores versões! 🤗

*Texto inspirado no tema do Happy Hour

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *