Vanessa Ribeiro Psicologia

Janeiro Branco: um convite ao cuidado da sua saúde mental


O filósofo e médico francês Georges Canguilhem certa vez disse que saúde é a capacidade humana de tentar equilibrar-se diante dos desequilíbrios próprios da vida. Achei isso tão lindo! Lembrei-me das dores de estômago, que nos avisam quando algo que ingerimos não está nos fazendo bem, da febre que também sinaliza desequilíbrios internos e das emoções, verdadeiros termômetros de como estamos nos relacionando com a vida.

Alguns acham que ter saúde mental é estar sempre equilibrado, sereno. Em algum momento relacionamos bem-estar a uma imagem de algo protegido, que não se abala, que não se afeta pelas mudanças ambientais. Isso é exatamente contrário ao que dizia Canguilhem, para ele e para tantos outros estudiosos da saúde, é necessário que o mundo nos afete. Precisamos sentir a vida! Sentir desde a mudança de temperatura do ambiente à relação que já não tem nos feito bem. É dessa maneira que atualizamos as nossas necessidades e podemos continuar a busca pelo que nos faz estar bem.

A ideia do termo Bem-estar, pra mim, pode ser transformada na pergunta: O que me faz estar bem agora? Ou ainda, o que tem me impedido de estar bem agora?

Lembrando que estamos falando aqui de estado, de algo desse momento aqui e agora. Estados são transitórios, isso significa que o bem-estar não é algo que se consegue e que uma vez conseguido é garantido para a vida inteira.

Acho que lemos tantos contos de fadas durante a vida que de alguma forma tendemos a esperar por aquela mesma lógica de uma história que retratada um enredo de superação de desafios e termina com uma página dizendo “E viveram felizes para sempre”. Buscamos uns modelos de saúde e desejamos em algum momento cumprir todos os requisitos desse modelo, na esperança de que a página seguinte seja “E viveu saudável para sempre…”.

Talvez seja uma grande frustração desse pensamento quando eu uso a frase do Canguilhem, que diz justamente que a vida é feita de desequilíbrios constantes, e que não adianta fantasiar caminhos retos para uma estrada marcada pelas curvas, pelo solo irregular e por trechos de subidas e descidas. É preciso buscar CONSTANTEMENTE se manter em movimento, assumindo os desequilíbrios da estrada da vida. E talvez, o que mais assuste seja justamente a constatação de que esse é um processo constante, um exercício diário. A manutenção da saúde mental, assim como a da saúde física requer mais que uma rotina de cuidados, exige um lugar de importância. Cuidamos daquilo que valorizamos!

É preciso se dar valor, apropriar-se do que você precisa e dos caminhos necessários para alcançar isso. Isso exige disciplina, disposição e pitadas diárias de persistência e resistência à frustração, afinal nem tudo vai acontecer como você imaginou.

Parafraseando Canguilhem, você produz saúde mental a cada vez que busca se reequilibrar diante dos desequilíbrios próprios da sua estrada da vida.

A cada vez que persiste por você, mesmo quando tudo parece tão difícil.

A cada vez que entende que desistir em algumas situações, é se dar a chance de viver novas histórias, quando as que vivemos já não nos nutrem mais.

A cada vez que mantém a sua mente em movimento, com aprendizagens e conexões que te ajudam a ser melhor a cada dia.

A cada vez que diz “sim” para o que você deseja e precisa, mesmo que isso seja encarado como um “não” ou uma frustração para o outro que criou expectativas irreais em relação a você.

A cada vez que deixa de brigar com suas emoções e simplesmente deixa espaço para que elas venham e lhe mostrem o que as situações tem produzido em você.

Você produz saúde mental a cada vez que se olha no espelho e se reconhece imperfeito(a), cheio(a) de defeitos e ainda assim consegue destinar amor a você e dar valor a cada passo que lhe trouxe até aqui.

Desde 2014, existe a campanha Janeiro Branco, que aproveita o mês de Janeiro como um tempo de reavaliações e construções de metas para a conscientização sobre o valor da saúde mental na produção do nosso bem-estar.

O autoconhecimento é essencial nesse processo, já que se torna muito mais difícil cuidar daquilo que não conhecemos e não temos interesse em conhecer. Como disse, esse é um desafio diário. Mas 2021 será mais um ano em que estarei por aqui, disposta a construir reflexões que te ajudem a se perceber, a se conhecer.

Seguimos juntos 😉

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