Em uma tarde vazia, um encontro inesperado…
Paira o silêncio no ar e me convoca a iniciar uma conversa:
Silêncio: – Oi! Tudo bem?
Eu: Tudo bem… (respondi desconfiado)
Silêncio: Em 5 anos de ausência isso é tudo que pode me dizer sobre você?
Eu: O que mais você quer saber?
Silêncio: De você…
Eu: Ah estou estudando bastante, logo logo vou me formar… e antes que pergunte.. a família está ok também…
Silêncio: Só isso?
Eu: Não está bom?
Silêncio: Eu que te pergunto: está bom?
Por que adiamos tanto os silêncios? O que faz ser tão difícil parar e nos escutar?
Quantos estímulos nos atravessam diariamente! TV, rádio, celulares recheados de mensagens e posts para fazer, receber, curtir, comentar…
E assim vamos tentando nos encontrar com o externo e nos tornando estranhos a nós mesmos…desconhecedor das necessidades legitimas e emergentes e mero sobrevivente de um mundo recheado de “Você tem que ser assim”, “Você deveria fazer desse jeito”… Cobranças e falas que nos açoitam, sufocam a nossa alma e aprisionam o nosso corpo.
Nunca estivemos tão conectados e tão desconectados… A internet nunca foi tão eficiente, as mensagens nunca foram tão rápidas, os afazeres nunca foram tão urgentes e a VIDA nunca foi tão inexistente…
E em meio a isso temos um corpo…
Que nunca chega ao padrão de beleza desejado…Um peso sempre “inadequado”…
Dores de cabeça que simbolizam impedimentos produtivos…
Adoecimentos compreendidos como fraqueza e deteriorização.
Insuficiência. Incapacidade e inadequação são palavras que nos convidam a fazer mais, buscar mais, aprender mais, porém, não necessariamente a viver melhor…
Nos açoitamos a cada erro ou sensação de insuficiência. Colecionamos culpas e tentamos compensar o mundo das nossas falhas… trabalhando mais, dormindo menos, medicando mais, silenciando intensamente a cada dia o nosso corpo e o que há de vida em nós…
O silêncio é a parada que nos convida a reassumir o sentido da nossa vida… mas para isso é preciso estar disposto a assumir a nebulosidade dos autoenganos… retificar as maquiagens físicas e emocionais…
É preciso tocar o chão, tocar o mundo, o outro a partir de um encontro autêntico consigo mesmo. Será que estamos dispostos a nos aventurar?